A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito que investiga o desvio de dinheiro do contrato entre o Corinthians e a ex-patrocinadora VaideBet. De acordo com o relatório final, o presidente afastado do clube, Augusto Melo, teria utilizado parte da comissão recebida por meio do acordo para quitar dívidas com um agiota da zona leste de São Paulo.

A investigação, conduzida pelo delegado Tiago Fernando Correia, aponta que o plano dos envolvidos era repassar 7% do valor total do contrato (aproximadamente R$ 25,2 milhões) em parcelas mensais de R$ 700 mil. O influencer Bruno Alexssander, conhecido como “Buzeira”, também é citado no inquérito como um dos nomes ligados ao esquema, supostamente atuando como doador para cobrir os valores desviados.

Um dos trechos do relatório revela que Melo estaria sendo ameaçado por um agiota:

“Na denúncia, verdade seja dita, essas tais doações foram tratadas como 'dívidas', e foi asseverado também que um agiota da zona leste estaria no encalço de Augusto, ameaçando matá-lo caso não pagasse o débito”, diz o documento.

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O inquérito destaca que as irregularidades começaram logo no início da parceria com a VaideBet, ainda em janeiro de 2024, sem a devida análise pelo setor de compliance do clube. Os investigadores chamaram atenção para o fato de que as comissões do contrato foram repassadas a Alex Cassundé, dono da empresa Rede Social Media Design — que participou da campanha de Augusto Melo à presidência do Corinthians. 


A empresa foi identificada como intermediária das transferências para contas de empresas de fachada, como a Neoway, o que levantou suspeitas e levou à abertura formal da investigação em junho.

“Esses fatos alicerçaram a conclusão de que a empresa Neoway era, de fato, uma sociedade de fachada, criada de forma fraudulenta para, muito provavelmente, ocultar e dissimular valores ilícitos”, conclui o relatório.
Além de Melo, outros dirigentes foram indiciados: Marcelo Mariano, Sérgio Moura e Yun Ki Lee.

Outro ponto grave do inquérito é a citação ao possível envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) no esquema. As autoridades policiais identificaram que R$ 870 mil desviados do Corinthians foram depositados na conta da empresa UJ Football Talent Intermediação — ligada a Vinícius Gritzbach, morto no Aeroporto de Guarulhos em novembro de 2024. Gritzbach havia mencionado, em delação, o uso de contas laranjas para lavagem de dinheiro do grupo criminoso.

“A conclusão (e constatação) de que os recursos financeiros desviados do Sport Club Corinthians Paulista foram parar em contas de uma empresa suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC)”, aponta o inquérito.

A defesa do influenciador Buzeira foi procurada pela CNN, mas não retornou até o fechamento da reportagem. O espaço permanece aberto.

Defesa de Augusto Melo

Em nota oficial, a defesa do presidente afastado do Corinthians negou qualquer vínculo com organizações criminosas e classificou como irresponsáveis as insinuações feitas pela imprensa:

"Ressaltamos que não há, até o momento, qualquer elemento concreto que vincule o presidente Augusto Melo a qualquer organização criminosa", diz trecho da nota.
“O presidente Augusto Melo permanece à disposição da Justiça para colaborar com qualquer esclarecimento necessário, reafirmando seu compromisso com a ética, a legalidade e a transparência no exercício de suas funções”.

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