De acordo com pesquisa da consultoria norte-americana Yield Sec, especializada na análise de dados do setor digital, as bets ilegais já movimentam mais dinheiro e atraem mais apostadores do que as plataformas regulamentadas pelo governo federal.

Entre abril e junho de 2025, para cada R$ 1 apostado em sites legais, R$ 1,04 foi direcionado para plataformas clandestinas, segundo o levantamento divulgado nesta terça-feira (14). O chamado “mercado paralelo” cresceu 10% em relação ao primeiro trimestre do ano, ultrapassando oficialmente os operadores licenciados.

🗞️ Leia também

• Haddad defende “taxação BBB” sobre bancos, bilionários e apostas esportivas no Senado

• Influenciador Buzeira é detido em operação da PF contra lavagem de dinheiro do tráfico e bets

No início de 2025, o cenário ainda era favorável ao setor legalizado: 55% dos usuários preferiam plataformas regulamentadas e 45% apostavam em sites irregulares. Mas, em apenas um trimestre, essa proporção se inverteu — agora os ilegais concentram 55% dos apostadores brasileiros.

De acordo com a pesquisa, os sites clandestinos movimentaram R$ 18,1 bilhões no primeiro semestre, enquanto as casas autorizadas registraram R$ 17,4 bilhões. O governo confirmou esses números por meio da Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda.

Perda bilionária em impostos e avanço do crime digital

A expansão das bets ilegais representa também um rombo fiscal expressivo. A consultoria estima que o país tenha deixado de arrecadar R$ 4,61 bilhões em impostos apenas no primeiro semestre de 2025. Já as plataformas regulamentadas contribuíram com R$ 4,46 bilhões em tributos no mesmo período.

Hoje, o Brasil conta com 2.316 sites ilegais ativos, contra apenas 167 operadores autorizados oficialmente. O relatório indica que 37% da população brasileira — cerca de 81,7 milhões de pessoas — jogaram online nos seis primeiros meses do ano, sendo 23% (50,9 milhões) em plataformas fora da lei.

Para a Yield Sec, o avanço dos operadores irregulares é consequência direta da ausência de uma legislação sólida e de uma atuação efetiva do poder público. O estudo aponta que a demora na regulamentação e a excessiva preocupação com temas paralelos, como publicidade e idade mínima, acabaram travando o desenvolvimento do mercado legal e abrindo espaço para o crescimento do crime digital.

“O crime encontrou um caminho para o mercado de jogos online no Brasil devido à falta de vontade política e de uma legislação eficaz. Ele se estabeleceu e continuará explorando as brechas do sistema”, alerta o relatório.

Além disso, as plataformas ilegais oferecem liberdade total ao usuário, permitindo depósitos e apostas sem identificação pessoal, algo impossível nos sites regulamentados, que exigem CPF, dados bancários e bloqueiam beneficiários de programas sociais.

Risco de expansão com a Copa do Mundo de 2026

A consultoria também alerta que o cenário pode se agravar nos próximos meses. A Copa do Mundo de 2026 tende a impulsionar o volume de apostas no país, e se nenhuma medida for adotada, o mercado ilegal pode alcançar 72% do total de apostas até o terceiro trimestre do próximo ano.

O governo, por sua vez, busca novas formas de arrecadar recursos, incluindo a cobrança de tributos retroativos, que pode render até R$ 5 bilhões entre 2025 e 2026. Mas especialistas alertam que sem fiscalização e combate efetivo, a arrecadação continuará sendo corroída pelo mercado clandestino.

O relatório da Yield Sec destaca ainda que o mercado ilegal não é exclusividade brasileira. Nos Estados Unidos, durante o Super Bowl de 2024, apenas 26% das apostas ocorreram em plataformas legalizadas. Já na Argentina, o cenário é ainda mais crítico: 92% das apostas online são realizadas em sites ilegais.

🔞 O jogo não é a sua realidade e o resultado de sua aposta não te define como uma pessoa bem ou mal-sucedida. Procure ajuda psicológica e conheça o que é a Ludopatia.