Durante o III Congresso Nacional de Loterias Municipais, realizado nesta quinta-feira (14), especialistas alertaram que a desaceleração da indústria de jogos e apostas no Brasil pode colocar em risco a saúde financeira do futebol nacional.
O debate, que reuniu Mariana Chamelette (vice-presidente do TJDFP), Talita Garcez (sócia do Garcez Associados) e Ana Diedrich (advogada), destacou a dependência crescente dos clubes em relação aos patrocínios de casas de apostas responsáveis por 68% dos acordos entre times da Série A e C.

Segundo Talita Garcez, a possível aprovação do PL 2985/23, que restringe a publicidade das bets, ameaça não apenas a entrada de novos contratos, mas também a continuidade de acordos já firmados.

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“Esses patrocínios não são um extra: são usados para pagar folha salarial, manutenção de estádios e investimentos em categorias de base e futebol feminino. Se houver restrição severa, não vejo outro segmento capaz de substituir essa receita”, afirmou.

Insegurança jurídica e risco de perdas milionárias

Garcez também destacou que parte dos contratos envolve valores já adiantados pelos patrocinadores. “Uma mudança brusca nas regras pode gerar indenizações, insegurança jurídica e retração no interesse de novos investidores”, explicou.

O alerta ecoa entre dirigentes, já que a retração desse patrocínio poderia levar clubes a cortes de despesas essenciais, comprometendo desempenho esportivo e manutenção de atletas.

Apostas e esporte: relação histórica

Para Mariana Chamelette, a presença das apostas no esporte não é uma novidade, mas sim uma tradição que atravessa séculos.

“As apostas esportivas existem desde a Grécia Antiga. Após anos de debate, conquistamos uma regulamentação reconhecida como uma das melhores do mundo. Agora, vemos ataques ao setor que podem desestabilizar todo o ecossistema do futebol”, disse.

Ela comparou o cenário nacional ao do futebol inglês, onde foi proibido apenas o patrocínio máster, mantendo outras formas de apoio.

“O dinheiro das bets inflacionou salários, mas também viabilizou melhorias de infraestrutura. Precisamos de regras de fair play financeiro que mantenham essa relação saudável”, completou.

Ameaça de migração para o mercado informal

Ana Diedrich alertou que medidas como o aumento do imposto sobre a receita bruta dos jogos (GGR) de 12% para 18%, somadas a restrições de publicidade, podem provocar uma retração generalizada de investimentos.

“O risco é ver parte desse mercado migrar para a informalidade, para o chamado mercado cinza ou não regulado, onde o consumidor e o próprio esporte ficam mais vulneráveis”, afirmou.

Debate que vai além do futebol

O painel concluiu que a desaceleração do setor de jogos e apostas não atinge apenas o futebol profissional, mas ameaça toda a cadeia ligada ao esporte, incluindo categorias de base, competições femininas e eventos regionais.

Para os especialistas, um diálogo mais próximo entre operadores, reguladores e entidades esportivas é fundamental para garantir que as mudanças na legislação preservem a sustentabilidade do setor e evitem prejuízos irreversíveis para a principal paixão nacional.

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