A ascensão meteórica das plataformas de apostas esportivas (bets) começa a mostrar seus efeitos diretos no mercado tradicional de jogos no Brasil. Segundo dados recentes da Caixa Econômica Federal, o interesse nas clássicas loterias, como Mega Sena e Lotofácil, está em queda acelerada. A receita do banco com a operação dessas modalidades despencou 16% no primeiro semestre de 2025, reflexo direto da migração dos apostadores para os apps e sites de bets.

De janeiro a junho deste ano, a Caixa arrecadou R$ 1,105 bilhão com sua rede de 21,1 mil lotéricas e correspondentes Caixa Aqui. Esse valor representa uma queda de R$ 211 milhões em relação ao mesmo período de 2024.

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Apesar de o relatório da Caixa citar a “menor quantidade de prêmios acumulados” como explicação, um dado chama a atenção: o valor total pago em prêmios cresceu 8,2% no mesmo período, alcançando R$ 4,3 bilhões, o que enfraquece a justificativa oficial.

O fenômeno das bets mudou o jogo no Brasil. Com campanhas de marketing agressivas, presença massiva nas redes sociais e nos intervalos esportivos, além da facilidade de apostar via celular, as plataformas digitais tomaram o protagonismo que antes era das loterias federais.

Esse novo hábito de consumo impacta diretamente a Caixa, que detém o monopólio das loterias físicas, mas até agora não conseguiu competir de forma relevante no ambiente digital dominado por empresas privadas, muitas delas com sede no exterior.

Receita com benefícios sociais dispara 250% desde 2019

Se por um lado a Caixa perde terreno no setor de apostas, por outro ela se fortalece na gestão de benefícios sociais. A operação de repasses de recursos como Bolsa Família, aposentadorias, seguro-desemprego e programas educacionais vem crescendo ano a ano e já representa uma nova e robusta fonte de receita.

Entre janeiro e junho de 2025, essa linha de receita gerou R$ 815,2 milhões, alta de 12% em um ano. Desde 2019, o salto acumulado chega a 250%, com um ganho adicional de R$ 582 milhões no período.

A Caixa já distribuiu R$ 229,8 bilhões em benefícios sociais somente neste primeiro semestre de 2025, alcançando 20,8 milhões de brasileiros. Os principais repasses foram:

• Aposentadorias e pensões: R$ 89 bilhões

• Bolsa Família: R$ 81,4 bilhões

• Seguro-desemprego: R$ 31,1 bilhões

• Abono salarial: R$ 17,7 bilhões

• Pé-de-meia (programa educacional): R$ 6,4 bilhões

Papel ampliado fortalece Caixa

Além do pagamento de benefícios diretos à população, a Caixa também aumentou sua atuação como operadora de repasses do Orçamento federal. Só em 2025, foram contratados 882 novos instrumentos de investimento público, totalizando R$ 4,8 bilhões.

Segundo o banco, o crescimento da receita com "transferência de benefícios" está atrelado à sua atuação no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), onde a Caixa intermedeia pagamentos feitos por diversos ministérios, como Saúde, Justiça e Cidades. Cada operação pode gerar tarifas de até 2,5% sobre o valor transferido, receita garantida com pouco risco.

 E o futuro das loterias?

Enquanto a gestão de benefícios sociais se consolida como motor de crescimento, o futuro das loterias tradicionais da Caixa segue incerto. O silêncio do banco sobre a queda de arrecadação acende um sinal de alerta: a perda de relevância pode se intensificar se não houver uma resposta rápida à nova realidade imposta pelas bets.

Para um banco que sempre teve as loterias como uma de suas vitrines populares, o desafio agora é claro: reconquistar a atenção do apostador ou perder, de vez, o lugar no jogo.

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